Uma questão de prioridades

Ao longo dos tempos tem existido alguma indefinição sobre o que é um bom autarca.
Uma boa imagem e um bom score eleitoral ou, ao invés, uma boa leitura das necessidades e anseios dos munícipes e um trabalho profícuo na construção de um modelo de desenvolvimento económico, urbanístico e social.
Defendo claramente a segunda  opção, até porque habitualmente um autarca que consiga ter boa performance a este nível, tem invariavelmente boa imagem e consequentemente bons resultados eleitorais.
Um exemplo vivo disto mesmo é, apesar de todas as questões colaterais em que tem estado envolvido, Isaltino Morais.
Qualquer tentativa de fazer prevalecer o “faz de conta” do marketing político, assentar o trabalho político autárquico apenas na imagem, é altamente censurável e um péssimo serviço à política e aos políticos, com a sua imagem já tão rasteira e caída em desgraça.
Cascais preocupa-me.
Depois do regabofe Socialista na gestão Judas, António Capucho trouxe a Cascais uma cultura de rigor, uma linha orientadora para a definição do modelo de desenvolvimento para este município.
O primeiro mandato deixou-nos a imagem de que a nossa terra estava bem entregue. A contenção urbanística, a intenção de rever em baixa o Plano Director Municipal de Cascais, um investimento em infra-estruturas culturais, educativas e desportivas, a conclusão das operações de realojamento habitacional, uma aposta na recuperação ambiental, com projectos ambiciosos nas áreas dos resíduos e na limpeza urbana  davam a ideia que tinha sido encontrado um rumo.
O segundo mandato trouxe um conjunto de alterações que trouxeram ideias novas de governação, até um novo estilo, mais conceptual, mas que cedo demonstrou fragilidades que têm sido disfarçadas à custa de muita comunicação e marketing.
Passámos a assistir a muitas ideias novas, muitos projectos de cuja existência se fala até à exaustão mas de que se desconhecem os seus resultados práticos.
Exemplo disto é a acção do DNA que, tendo uma acção meritória no empreendedorismo, na criação de micro empresas, houve-se falar do investimento realizado e do número de empresas criadas, mas não se fala de quanto é que tudo isto custa aos cofres da Câmara, qual o número de empregos criados e, das empresas criadas desde o início da actividade da DNA, quantas se mantém com resultados positivos.
Outro exemplo é o que se passa na área do ambiente. Hoje valoriza-se as acções para a fotografia, as acções de intervenção pontual, com grupos enormes de voluntários que passam um dia de “rabo para o ar” a apanhar lixo na Serra de Sintra ou nas falésias junto à praia mas deixa-se sem qualquer tipo de acção que uma instalação de tratamento de resíduos, que custou mais de 47 milhões de euros, e que devia estar em funcionamento há mais de um ano, se mantenha inoperativa enquanto se continua a gastar milhões de euros a transportar resíduos para outros aterros.
Hoje sente-se que a acção da Câmara de Cascais está muito mais preocupada com a imagem, com o parece, do que efectivamente em fazer.
Este facto é um sinal muito preocupante.
Há um velho ditado que diz que se consegue enganar todos uma vez, alguns muitas vezes mas é impossível enganar todos sempre!
A mobilidade é, a todos os títulos, uma peça fundamental para o desenvolvimento harmonioso de uma urbe e para a tão falada qualidade de vida das pessoas.
Há pouco tempo a Câmara anunciou mais um mega plano de investimentos em rede viária que irá resolver todos os problemas de mobilidade em Cascais.
Quando fui autarca em Cascais já existiam os projectos das Vias longitudinal sul e norte. Em 1986!
Ainda não foram construídos na sua totalidade. Um troço de cerca de 1 Km da VLN que liga a Quinta Patino às Fisgas que devia ter sido concluído antes das últimas eleições ainda não foi aberto ao público!
Enquanto estas vias estruturantes não são construídas não haverá soluções mais baratas e inteligentes que minimizem os muitos problemas que a circulação viária apresenta em Cascais?
Há.
Bastaria que uma parte do esforço que é feito em marketing fosse canalizado para pensar em pequenas soluções que poderiam, com pouco investimento, resolver parcialmente alguns nós cegos que mantemos nos eixos principais do concelho.
Não é razoável o que se passa à saída da A5 em Birre.
Não é aceitável que nada se tenha feito para minimizar o que se passa na EN 249-4 que liga São Domingos de Rana a Mem Martins.
Não é admissível que, porque teimosamente não é introduzida uma solução de sentidos únicos no Arneiro, o cruzamento da Mina seja responsável diariamente por filas de mais de um Km.  Já alguém fez contas às emissões de GEE que a falta de eficácia e de tomada de medidas representam? Seria certamente uma boa comunicação a apresentar no próximo Green Festival…
E sobre o PDM de Cascais então a solução vivida, passados 9 anos do anúncio da “urgente” revisão  a que deveria ser submetido, é no mínimo intrigante.
Nove anos para rever um PDM? A quem pode interessar esta falta de eficácia?
Prioridades.
É, no meu entendimento, uma questão de prioridades.
Parece, realço o parece, que a gestão da Câmara Municipal de Cascais urge repensar e redefinir as suas prioridades.
A Bem de Cascais!...

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