AINDA HÁ ESPERANÇA?


Muito se tem escrito sobre as mais recentes medidas de austeridade anunciadas pelo Primeiro Ministro na passada sexta-feira, mesmo antes do jogo da selecção nacional de futebol.
Na qualidade de militante do PSD confesso-me desapontado. Muito desapontado!
Eu tenho consciência que o país andou demasiado tempo a viver acima das suas possibilidades.
Eu sei que as prioridades do país foram mais ditadas pelas necessidades de obras a executar pelos grandes empreiteiros portugueses do que com as reais necessidades de infra-estruturas. Um bom exemplo do que acabo de afirmar, por ser tão caricato, foi a anunciada 3ª auto-estrada Lisboa Porto, ideia lançada ainda por Sócrates e que foi abandonada já pelo actual governo.
Mas, como em qualquer empresa, em qualquer família, quando aparece um deficit entre o que se gasta e o que se recebe, duas medidas podem e devem ser tomadas: analisar de que forma se podem aumentar as receitas ou verificar o que se pode cortar nas despesas.
Portugal, neste particular não pode ser excepção.
Sabemos todos que o Estado é hoje muito maior do que devia, comprometeu-se a fazer e a construir infra-estruturas que em rigor o país não tem dinheiro para sustentar, criou direitos e justas expectativas ao nível da educação e da saúde que custam muito dinheiro, o número de contribuintes activos é cada vez menor em comparação com o crescente número de pensionistas, enfim o panorama não é nada animador.
Quem estava mais atento ao que se passou, especialmente nos últimos anos de governo Sócrates, (mas não só!), poderá ter pensado, como eu, que Passos Coelho poderia ser o sinal de que este país precisava para corrigir a mão e colocar-nos num caminho de progresso.
Com um discurso inicial de encolher o Estado, assumir com frontalidade que era preciso fazer sacrifícios para recuperar a economia de Portugal e uma ideia inicial de que os sacrifícios era para todos sem excepção.
As primeiras medidas da troika vieram negar este princípio, caindo em cima do trabalhador por conta de outrem, especialmente os trabalhadores do Estado.
Os Partidos da oposição, o Presidente da República e o Tribunal Constitucional insistiram na necessidade da equidade, da distribuição dos sacrifícios por todos e com especial ênfase nos que melhor podem ajudar nesta altura de dificuldades.
Mas não!
Assistimos a mais um brutal aumento de impostos nos desgraçados do costume: os trabalhadores por conta de outrem!
Enquanto militante social democrata deveria estar a usar estas linhas para convencer os meus leitores de que estas são as únicas medidas possíveis mas, porque antes de ser militante sou um homem, português, com consciência e com alguma noção do que deve ser o serviço público, só consigo dizer que estou desapontado e que o Governo actual é afinal mais do mesmo que criticámos ao Governo anterior.
Ao fim de alguns meses, onde pára a fúria reformista, as medidas de redução do Estado, as privatizações?
Baixar os custos do Estado significa despedimentos em empresas públicas, na administração pública, nas empresas municipais, nas câmaras municipais. Não o fazendo, todos vamos continuar a ser sacrificados nos nossos impostos para pagar uma máquina que funcionava melhor com menos 20 ou 25% do pessoal que tem.
São clientelas, especialmente as que vivem penduradas nos municípios. Valem votos. Tenha-se a coragem de pensar primeiro no todo, de mostrar uma ponta de respeito pelos sacrifícios que estão a ser exigidos aos portugueses!
Mas há um tique irritante na nossa classe política actual que me provoca um profundo desprezo. Esta gentinha, depois de se apanhar no poleiro, parece que passou a fazer parte de uma casta que não está obrigada aos mesmos deveres de cidadão e que os sacrifícios exigidos aos outros não lhes devem ser aplicados.
Exemplos?
Tenho muitos.
O escândalo das pensões vitalícias dos senhores deputados. Não se percebe como homens e mulheres com quarenta anos podem ter direito a uma pensão vitalícia após 8 anos como deputados, a maioria das vezes sem terem desempenhado essas funções em exclusividade sequer. É vergonhoso que a classe política no seu todo, da esquerda à direita, não tenha ainda colocado um ponto final neste roubo autorizado!
Ex Presidentes da República com direito a pensão vitalícia, escritório, secretariado, viatura… porquê? Corta-se a eito nos rendimentos dos pensionistas, alguns deixando-os no limiar da subsistência e cria-se uma classe de pensionistas especiais de corrida? Alguns, como Mário Soares ou Jorge Sampaio, sempre a distribuir lições de democracia, não percebem o ridículo em que caiem cada vez que abrem a boca?
A vergonha a que temos assistido nos últimos meses em Cascais à forma desbragada como se utilizam os dinheiros dos nossos impostos em Festas e mais Festas e ainda mais Festas é, na conjuntura em que vivemos, um caso claro de polícia!
Os portugueses em geral e os que pagam os seus impostos em Cascais, não acham estranho que numa conjuntura de grande sacrifício, se desbarate dinheiro em espectáculos de hora e meia que custam o suficiente para alimentar muitas famílias em dificuldades?
A conclusão que consigo tirar é que afinal a classe política é a mesma, muda de rótulo mas é a mesma, indiferentemente seja do partido A, B ou C, com os mesmos tiques, com o mesmo desrespeito pelo cidadão que os elege.
A ética, a justiça, a equidade, são conceitos que fazem parte da história da democracia mas que não estão a ser praticados.
Antigamente tentava-se levar para a política os cidadãos que eram exemplo.
Hoje, tiramos dos políticos, o exemplo do que não queremos que os nossos filhos sejam!
Chamem-me tolo, mas eu ainda acredito na integridade de Passos Coelho. Temo é que se não se livrar urgentemente dos Relvas, dos Carreiras, dos Luzes que o acompanham, vai ficar na história como mais um de muitos que só se serviram, mas não serviram para nada!

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